sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Professor de língua portuguesa, professor de glotodidática do vernáculo brasileiro!


O Professor de língua portuguesa

Sempre me questionei sobre se estava correta esta nomenclatura. Não ensinamos o português de Portugal  já faz muito tempo. O português brasileiro já é bem diferente do de Portugal e este conceito “português brasileiro” fica meio duvidoso entre um e o outro.  No aspecto oficial é indubitável que adotamos a expressão, mas hoje esta língua é mais nossa que dos portugueses. Até em quantidade de falantes somos maioria. Nem parece que a colônia eramos nós. Existiam e existem outras línguas no Brasil, apesar de não serem reconhecidas como oficiais. As de origem indígena são bem expressivas dessa quantidade, inclusive no a passado até já se proibiu a falada língua geral que se formou a partir do tupi antigo. Há ainda pequenos núcleos de falantes de línguas trazidas por imigrantes europeus. Mas voltando a nossa língua, ao nosso vernáculo temos a língua lusitana que transposta ao Brasil, tornou-se por evoluções políticas, o vernáculo brasileiro.
            Agora quanto ao ensino da língua falada por nós mesmo, recebemos tantas responsabilidades que somente dizer professor de língua portuguesa ficaria carente de explicação. Desde toda a estrutura gramatical, passando pela morfologia, pela estilística, sintaxe e literatura do Brasil, no Brasil e a lusitana, oh! Quanta coisa é abordada. Sem falar nos  formatos didáticos, metodologias ativas, aspectos cognitivos e psicoemocionais, sua dinamicidade e a conversão do ensino em oficina, laboratório, pesquisa, tudo mais além da sala de aula.
            Foi numa destas reflexões que topei com a expressão, para mim, nova, a glotodidática. Então, lendo investigando seus conceitos, vi que tinha em muito a ver com o que  fazia o professor de língua portuguesa. Veja ai.

            A GLOTODIDÁTICA

A palavra glotodidática é um termo novo e pouco difuso no Brasil. O termo Glotodidática é italiano e significa a ciência da educação linguística. De acordo com Paolo Emílio Balboni (2003) entende-se, portanto, glotodidática como a ciência autônoma, que busca conceitos em outras áreas científicas para definir seu campo de ciência. A glotodidática preocupa-se com o relacionamento do professor com o aluno e com a disciplina, colocando sempre a integração da língua em um contexto social adequado. Engloba vários campos da ciência a fim de corroborar com o aprendizado da língua de modo profícuo. Através de outro teórico italiano: Marcel Danesi(1998), foi possível interpretar a glotodidática como disciplina que não se detém em um espaço apenas, ela estuda as mais variadas possibilidades de se ensinar, tendo sempre a preocupação com o aluno. Pode-se dizer que a glotodidática se refere à busca de um ensino eficaz para a aprendizagem.

"A competência comunicativa é uma das metas glotodidáticas. [….] a partir da meta específica da educação linguística: o desenvolvimento da competência matética ".*(vixi). Pode-se entender que uma das metas da glotodidática é a competência comunicativa, não somente a competência linguística, como era antes estudada na ciência linguística. Atualmente, a comunicação ganha maior importância. Mas a glotodidática, além da competência comunicativa, não abre mão da competência matética, que é aquela em que o aluno aprende a aprender(ufa, topei em um dos pilares do Jacques Delors), onde o professor ensina o aluno a ter autonomia no aprendizado.
            Por muito tempo foi definida a glotodidática como linguística aplicada. No campo linguístico o foco são as estruturas linguísticas, na linguística aplicada o foco era a competência linguística, ou seja, esse campo estava direcionado já ao ensino, mas, a um ensino ainda não contextualizado, como é agora com a glotodidática. A finalidade da glotodidática, no entendimento de alguns estudiosos, é contribuir para a ampla aquisição/aprendizado de uma língua estrangeira. Mas vale lembrar que quando se fala de línguas, refere-se à sua diversidade, ou seja, toda e qualquer língua, inclusive a língua vernácula, no caso brasileira, em suas peculiaridades e complexidades que desafiam até mesmo o seu próprio falante. Vernáculo esse que não é propriamente a língua portuguesa, o português de Portugal, mas a nossa língua com suas mestiçagens vocabulares, pronominais,  verbais, etc. A amplitude de objetivos que se propõe ao professor desta linguagem com tantas cobranças de tantos caminhos provoca esta abertura de novos conceitos para o ensino/aprendizagem de nossa língua nacional, nosso vernáculo(vernáculo é tudo aquilo que é próprio do país). 
            Hoje, a língua que foi dos portugueses, transmutou-se, é nossa, é  brasileira; só é descendente da lusitana.
Então está aí !
O professor de língua portuguesa é também
professor de glotodidática do vernáculo brasileiro!



BALBONI, Paolo Emilio. Tecniche didattiche per l'educazione linguistica:italiano, lingue straniere, lingue classiche. Torino: Utet libreria, 2003.
DANESI, Marcel. Il cervello in aula: neurolinguistica e didattica delle lingue.Perugia: Guerra edizioni, 1998.

* Matética -Na pedagogia, matética é a ciência da aprendizagem, em contrapartida à didática que é a ciência do ensino. O termo matética foi cunhado por Jan Amos Komenský,