O
Professor de língua portuguesa
Sempre me questionei sobre se estava correta
esta nomenclatura. Não ensinamos o português de Portugal já faz muito tempo. O português brasileiro já
é bem diferente do de Portugal e este conceito “português brasileiro” fica meio
duvidoso entre um e o outro. No aspecto
oficial é indubitável que adotamos a expressão, mas hoje esta língua é mais
nossa que dos portugueses. Até em quantidade de falantes somos maioria. Nem
parece que a colônia eramos nós. Existiam e existem outras línguas no Brasil,
apesar de não serem reconhecidas como oficiais. As de origem indígena são bem
expressivas dessa quantidade, inclusive no a passado até já se proibiu a falada
língua geral que se formou a partir do tupi antigo. Há ainda pequenos núcleos
de falantes de línguas trazidas por imigrantes europeus. Mas voltando a nossa
língua, ao nosso vernáculo temos a língua lusitana que transposta ao Brasil,
tornou-se por evoluções políticas, o vernáculo brasileiro.
Agora
quanto ao ensino da língua falada por nós mesmo, recebemos tantas
responsabilidades que somente dizer professor de língua portuguesa ficaria
carente de explicação. Desde toda a estrutura gramatical, passando pela morfologia,
pela estilística, sintaxe e literatura do Brasil, no Brasil e a lusitana, oh!
Quanta coisa é abordada. Sem falar nos
formatos didáticos, metodologias ativas, aspectos cognitivos e psicoemocionais, sua dinamicidade e a conversão do ensino em oficina, laboratório,
pesquisa, tudo mais além da sala de aula.
Foi
numa destas reflexões que topei com a expressão, para mim, nova, a glotodidática. Então, lendo investigando seus conceitos, vi que tinha em muito
a ver com o que fazia o professor de língua portuguesa. Veja ai.
A GLOTODIDÁTICA
A palavra glotodidática é um termo novo e pouco
difuso no Brasil. O termo Glotodidática é italiano e significa a ciência da
educação linguística. De acordo com Paolo Emílio Balboni (2003) entende-se, portanto,
glotodidática como a ciência autônoma, que busca conceitos em outras áreas
científicas para definir seu campo de ciência. A glotodidática preocupa-se com
o relacionamento do professor com o aluno e com a disciplina, colocando sempre
a integração da língua em um contexto social adequado. Engloba vários campos da
ciência a fim de corroborar com o aprendizado da língua de modo
profícuo. Através de outro teórico italiano: Marcel Danesi(1998), foi possível
interpretar a glotodidática como disciplina que não se detém em um espaço
apenas, ela estuda as mais variadas possibilidades de se ensinar, tendo sempre
a preocupação com o aluno. Pode-se dizer que a glotodidática se refere à busca
de um ensino eficaz para a aprendizagem.
"A competência comunicativa é uma das metas
glotodidáticas. [….] a partir da meta específica da educação linguística: o
desenvolvimento da competência matética ".*(vixi). Pode-se entender que uma das
metas da glotodidática é a competência comunicativa, não somente a competência
linguística, como era antes estudada na ciência linguística. Atualmente, a
comunicação ganha maior importância. Mas a glotodidática, além da competência
comunicativa, não abre mão da competência matética, que é aquela em que o aluno
aprende a aprender(ufa, topei em um dos pilares do Jacques Delors), onde o professor ensina o aluno a ter autonomia no
aprendizado.
Por
muito tempo foi definida a glotodidática como linguística aplicada. No campo
linguístico o foco são as estruturas linguísticas, na linguística aplicada o
foco era a competência linguística, ou seja, esse campo estava direcionado já
ao ensino, mas, a um ensino ainda não contextualizado, como é agora com a
glotodidática. A finalidade da glotodidática, no entendimento de alguns estudiosos, é contribuir para a ampla
aquisição/aprendizado de uma língua estrangeira. Mas vale lembrar que quando se fala de
línguas, refere-se à sua diversidade, ou seja, toda e qualquer língua,
inclusive a língua vernácula, no caso brasileira, em suas peculiaridades e complexidades
que desafiam até mesmo o seu próprio falante. Vernáculo esse que não é
propriamente a língua portuguesa, o português de Portugal, mas a nossa língua
com suas mestiçagens vocabulares, pronominais,
verbais, etc. A amplitude de objetivos que se propõe ao professor desta
linguagem com tantas cobranças de tantos caminhos provoca esta abertura de
novos conceitos para o ensino/aprendizagem de nossa língua nacional, nosso vernáculo(vernáculo
é tudo aquilo que é próprio do país).
Hoje, a língua que foi dos portugueses, transmutou-se, é nossa, é brasileira; só é descendente da lusitana.
Hoje, a língua que foi dos portugueses, transmutou-se, é nossa, é brasileira; só é descendente da lusitana.
Então está aí !
O professor de língua portuguesa é também
professor de glotodidática do vernáculo
brasileiro!
BALBONI, Paolo Emilio. Tecniche didattiche per l'educazione linguistica:italiano, lingue straniere, lingue classiche. Torino: Utet libreria, 2003.
DANESI, Marcel. Il cervello in aula: neurolinguistica e didattica delle lingue.Perugia: Guerra edizioni, 1998.
* Matética -Na pedagogia, matética é a ciência da aprendizagem, em contrapartida à didática que é a ciência do ensino. O termo matética foi cunhado por Jan Amos Komenský,